segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Nunca mais teremos uma banda como RPM

O desavisado que passou na semana passada pela volta do Programa do Jô, viu: uns tiozinhos tocando rock – era o RPM. Tentando ensaiar alguma volta, ou melhor, agendando alguns shows pelo interior do país, o RPM estava lá, com alguns quilos a mais e sinais de calvície bem avançada, tocando Radio Pirata. Algum garoto de quinze anos acharia ridículo, mas eu digo: nunca mais o Brasil terá uma banda como o RPM. Pra quem lembra e pra quem não sabe: surgida nos rastros do pós-punk paulistano dos anos 80, a banda uniu letras bem sacadas com um tecnopop derivativo do progressivo e ternos bem cortados e conseguia competir em termos de popularidade com Roberto Carlos – e ganhava em tecnologia, com computadores, sintetizadores e raio laser no palco. Adolescente que eu era, vi o fenômeno – um bom termômetro era o amigo secreto da classe: se antes, a grande maioria pedia uma coletânea chamada “Hit Parade'' (eu e mais dois infelizes pedíamos AC/DC), naquele ano da glória de 1985, toda a molecada queria o disco da capa amarela do RPM. Nem precisava haver troca, porque o disco que você comprava era o mesmo que iria ganhar (eu comprei um do RPM e ganhei um do….RPM). Em pouco tempo, virou mania: a banda que todos nós gostávamos, saiu da sala de estar e foi parar na cozinha: os shows reuniam gente de todas as classes sociais e todos gostando daquela tecladeira prog de Luiz Schiavon e o ~jeito sexy de ser~ de Paulo Ricardo. Musicalmente, havia os méritos e suas ousadias: canções sem refrão, compassos quebrados e ninguém achava estranho. Mas tudo o que sobe muito alto e rápido, sabemos, se estraçalha – os excessos – e não eram poucos; um disco ao vivo lançado logo depois do de estúdio, com o mesmo repertório; as brigas de egos – tudo contribuiu para que o RPM se desintegrasse, na mesma velocidade com que atingiu um patamar que nenhuma outra banda no país conseguiu. Anos depois, com outra estética e outros motivos, a Legião Urbana chegou lá, mas nunca teve a seu dispor todo o aparato de stardom que os repemês contaram. Hoje, o RPM volta com a certeza de que não terá a mesma popularidade que teve antes, mas sabendo que nunca no Brasil haverá uma banda que foi tão longe como eles. FONTE: UOL

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