sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Gaúcho é um pouco chorão, não consegue se misturar, diz Humberto Gessinger.
Após quase 30 anos na música, Humberto Gessinger finalmente lança um trabalho solo. É a primeira vez que o baixista, compositor e fundador do Engenheiros do Hawaii usa apenas seu nome em um trabalho artístico, e não com a conhecida banda, ao lado de Duca Leindecker no Pouca Vogal ou com o Humberto Gessinger Trio (que rendeu apenas um disco em 1996).
Para inúmeros fãs apaixonados, e detratores fervorosos das obras do gaúcho, um aviso: não há nada diferente dos outros trabalhos de Gessinger. Poderia ser muito bem um disco de outras bandas do cantor. "Nesse sentido sou bem amador", ele explica, em conversa com o UOL.
"As músicas pintaram no fim do ano passado. Só não sabia muito bem como lançar, se seria em disco do Engenheiros ou do Pouca Vogal. Na medida que eu ia preparando, vi que o grande barato era que cada música pedia algo diferente, e acabei chamando músicos de vários lugares".
Alguma sensação nova na estreia solo? "Apenas uma: de que eu não tenho um nome apropriado para um artista", ele ri. "Humberto Gessinger. É um nome meio complicado".
Pode não ser fácil, mas todo mundo conhece o nome e sobrenome do gaúcho. Falando de maneira calma, sempre no mesmo tom, por telefone direto de Porto Alegre --onde estreia o novo show na próxima quinta-feira (3)--, Humberto também falou sobre o novo livro, "Seis Segundos de Atenção", que terá tarde de autógrafos em São Paulo no sábado (28), na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.
Da mesma maneira que os últimos lançamentos (o compositor já lançou cinco obras), o livro traz pequenas crônicas de assuntos variados, que passeiam pela história do Engenheiros, pelas novas composições e suas opiniões sobre todo e qualquer tipo de assunto.
"Putz, há tantos assuntos palpitantes sobre os quais palpitar e eu só consigo pensar numa pedra caindo na água. Eleições, crimes, julgamentos, lançamentos... e só me interessa o espelho d'água de repente tomado por círculos concêntricos", diz um trecho do capítulo chamado "Tramando Mantras".
A veia literária falou mais alto quando Humberto criou um blog, embora ele diga que sempre escreveu, antes mesmo de compor. "A história é clichê, um guri tímido do colégio que escrevia...". Hoje, ele acredita que a prática o ajudou na música. "A coisa de estar lançando livro me deixou mais a vontade na composição. Eu senti isso. Sou mais rigoroso como compositor hoje", defende.
"Insular", o disco solo, não foi pensado como um trabalho conceitual, mas há um inegável clima de tributo a música regional. Escrito entre períodos de seca criativa, quando Humberto passava três meses sem conseguir escrever, o disco tem ritmo de folk rock, mas traz sanfonas e milongas, e a participação de músicos gaúchos, como com Bebeto Alves e Duca Leindecker.
"É algo que eu sempre fiz, mas nunca foi tão explicito", ele explica, sem deixar de criticar uma divisão na música gaúcha. "Gaúcho é um pouco chorão, diz que não tem espaço, mas não consegue se misturar. Algo que o Pará, por exemplo, sabe fazer muito bem. Fica uma coisa regional e tradicional de um lado e quem faz uma música mais universal de outros, como se fossem espécies em extinção", observa.
O mineiro Rogério Flausino, do Jota Quest, é a exceção no primeiro single, "Tudo Está Parado". "Fiquei três meses sem escrever nada. Aquela coisa que você acha que nunca mais vai passar. Mas o Rogério pediu uma música e fiz em 20 minutos", conta.
Com a bagagem inegável no rock nacional, Humberto ainda é alvo de críticas e, principalmente, de piadas. Brincar com a banda sempre pareceu ser um dos esportes favoritos de um grupo de pessoas que existem desde sempre, mas que hoje são chamadas de "haters" (odiadores). A última veio com o polêmico programa do governo federal, o Mais Médicos. "Prefiro médicos cubanos a engenheiros do Hawaii", dizia um post no Facebook, compartilhado e replicado no Twitter.
"Isso é bem a história do Engenheiros", Humberto parece dar de ombros. "Que seja assim. Os trabalhos autorais, particulares, costumam causar isso. A tendência é que as pessoas gostem para c****** e que não gostem para c******. É uma questão de escolha, e eu não me preocupo com isso".
Não que o cantor e compositor seja imune à insegurança. Pelo contrário. "O meu maior medo é tomar o tempo das pessoas. Até na escrita eu penso: será que isso está bom para eles perderam o tempo lendo?", desabafa.
FONTE: UOL
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