terça-feira, 2 de junho de 2015
Arraial do Pavulagem busca financiamento coletivo
Uma tradição popular que há quase 29 anos percorre as ruas da capital paraense está contando com a população para que suas atividades aconteçam. O Arrastão do Pavulagem é um cortejo de rua organizado pelo grupo Arraial do Pavulagem e concebido para celebrar a quadra junina e a rica cultura popular paraense, mas que precisa recorrer ao financiamento coletivo para acontecer no mês de junho.
Até o próximo dia 8 o grupo pretende arrecadar R$ 25 mil e, quem sabe, chegar até os R$ 100 mil em 29 de junho. Dessa forma, eles teriam recursos suficientes para garantir, a cada domingo, o colorido e a alegria que marcam a relação do arraial com o público e com o calor das ruas.
“A gente se preparou para se inscrever em editais e utilizar o incentivo com patrocínios através de empresas, mas, diante de uma situação econômica tão difícil, ficamos sem nosso tradicional apoio. Conseguimos alguma ajuda da área pública, como estrutura de palco e pequenas coisas, mas ainda precisamos de dinheiro para pagar as pessoas que trabalham conosco”, explica um dos vocalistas do Arraial do Pavulagem, Júnior Soares.
Junho no Pará, sem o arrastão, uma das festas mais populares da cultura local, é como festa junina sem quadrilha. Por isso os integrantes resolveram, diante da falta de apoio, recorrer ao público.
“Resolvemos experimentar outros formatos de captação. Nosso sonho é depender apenas da gente para realizar as ações, mas acreditamos que a ideia do financiamento coletivo pode ser uma alternativa. Acredito que a sociedade tem que dar sua colaboração, estamos acostumados a receber tudo de graça e ninguém tem o hábito de pagar para ver a cultura paraense”, completa Júnior.
Até o fechamento dessa edição eles tinham conseguido R$ 3.810,00 da meta de R$ 25 mil, com a colaboração de 63 patrocinadores. Mas o grupo pretende sair das redes sociais e ir para as ruas sensibilizar os brincantes a colaborar.
Eles estão realizando minicortejos em lugares como a Braz de Aguiar, Praça da República e shoppings. No dia 7 de junho, às 17h, o Arraial do Pavulagem e o Batalhão das Estrelas se apresentam no Pátio Belém.
“Ainda não atingimos uma meta e, se continuar assim, não vai ter o cortejo como era antes, todos os domingos, ou com show na praça. O arrastão na rua não depende muito de financiamento, mas o show depende de uma estrutura maior”, diz Júnior.
Não é a primeira vez que o arte-educador Clayderson Freire colabora para que o arrastão aconteça. Ele já doou mais que dinheiro, doou seu tempo para as oficinas e até emprestou sua casa para que elas acontecessem e para que o material fosse guardado, quando o grupo ainda não tinha uma sede própria.
“Eu comecei gostando das músicas, mas quando vi estava envolvido. Estamos com amor fazendo o que podemos para ajudar, porque queremos que o arrastão aconteça. A gente divulga para os amigos, pede ajuda, eu até vendi um dos instrumentos que tenho, um tambor, e deixei uma parte como doação. Eu mandei vir um instrumento de Macapá para vender e ajudar mais. Acho que está um pouco complicado conseguir essa meta, mas até o último minuto vamos correr atrás”, diz o fã.
Onde colaborar:
- No site eupatrocino.com.br/arrastao-do-pavulagem-2015. Basta escolher o valor e pagar no próprio site, com cartão de crédito ou boleto bancário.
- Também pode ser em dinheiro, na sede do site EuPatrocino - rua Triunvirato, 405. Sala 01 (Cidade Velha)
- No Pátio Belém (Trav. Pe. Eutíquio), onde haverá quiosque Eu Patrocino, hoje e nos dias 6 e 7 de junho, das 10h às 22h.
Quanto:
Você pode colaborar quantas vezes quiser, com o mesmo valor ou com valores diferentes.
Prêmios:
Em retribuição, o Instituto Arraial do Pavulagem oferece kits com produtos, que serão entregues na sede do instituto (Rua Boulevard Castilhos França, 738, Campina, Belém).
Os produtos só serão produzidos se a primeira meta for alcançada. Caso não seja atingida, o dinheiro de colaboradores será devolvido.
Kit Carimbó [R$ 20].
Adesivo + agradecimentos especiais no site arraialdopavulagem.org e facebook.com/institutoarraialdopavulagem.
Kit Toada de Boi [R$ 40].
Chapéu de palha com fitas + adesivo + agradecimentos
kit Pássaro Junino [R$ 40].
Camisa + adesivo + agradecimentos.
kit Quadrilha [R$ 50].
CD autografado + adesivo + agradecimentos.
kit Xote [R$ 100].
Chapéu de palha com fitas + camisa + CD autografado + adesivo + agradecimentos.
kit Retumbão [R$150].
DVD+ CD autografado + camisa + adesivo + agradecimentos.
kit Cortejo fluvial [R$ 300].
Ingressos para duas pessoas no barco do traslado dos bois Pavulagem e Malhadinho na abertura do Arrastão do Pavulagem + 2 chapéus de palha com fitas + 2 camisas + agradecimentos.
O Arrastão do Pavulagem é uma das maiores manifestações populares do Pará. Concentrado na capital paraense, ele contribui para manter viva a memória oral, tão importante para a formação da identidade das novas gerações, em particular aquelas que vivem condicionadas ao espaço urbano.
Tudo para partilhar com o público, a cada domingo de junho, as heranças do boi-bumbá, as bandeiras de santos, o mastro, os bonecos cabeçudos, os ritmos, cores, danças, cantos e cheiros característicos da região, em uma festa que inunda de alegria e cor a capital paraense.
Mas se para um grupo com a expressão e a solidez do trabalho do Arraial do Pavulagem o incentivo não veio, imagine-se para grupos populares do interior do Estado ou sem um público tão grande. “É um momento de dificuldade para todos nós, mas não é algo diferente do que vive a maioria dos músicos no estado e no Brasil inteiro. Não queremos falar só de nós e da nossa dificuldade. Acho que discutimos mal cultura em casa, na escola, nas secretarias de governo. A realidade de hoje, com economia bagunçada por corrupção, descaso, má aplicação do dinheiro público, atinge a cultura de uma forma fulminante. O que está em jogo são anos de luta dos segmentos culturais. O Arraial não quer falar do seu umbigo, mas é preciso que os gestores saiam dos gabinetes e conheçam o que está sendo feito”, diz Ronaldo Silva, presidente do Instituto Arraial do Pavulagem.
Ronaldo reconhece que o grupo sempre contou com apoios importantes das esferas pública e privada, e com o carinho dos brincantes. Mas diz que algumas opções ideológicas do grupo - como não aceitar patrocínio de bebidas alcoólicas, por acreditar que elas ferem o caráter pedagógico e familiar da manifestação - poderiam fazer com que eles chegassem a essa situação.
“É uma tristeza ver que a cultura paraense está chegando a um patamar de falta de diálogo, com espaços inacessíveis, teatros esvaziados e dinheiro público volumoso para coisas de vêm de fora, e a não valorização do artista paraense e da cultura popular. Se formos pensar na quantidade de dinheiro que chega para bois, pássaros, cordões de bichos, quadrilhas e outros eventos populares em relação a outras ações, veremos que estamos muito distantes. O gestor não pode ser inimigo do artista e não pode decidir isoladamente. Precisamos de um canal para garantir que a prática cultural continue ocorrendo”, critica Ronaldo.
FONTE: DIÁRIO DO PARÁ
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